Avançar para o conteúdo principal

JavaPT09 – Sun e PTJUG. Uma cooperação de sucesso.

Fiquei agradavelmente surpreendido com o que presenciei no JavaPT09, realizado em 17 do corrente mês, na Universidade do Minho, em Braga. Por diversos motivos, dos quais mencionarei os que achei mais relevantes.

Um dos motivos foi a boa organização com que tudo se processou. Desde a verificação dos espectadores através dos registos, até à última apresentação agendada, tudo se processou razoavelmente dentro dos horários previstos e de uma forma natural e fluída. Ficam aqui os meus parabéns quer aos organizadores, quer aos apresentadores.

Depois, pela realização deste evento JavaPT09 na zona Norte do país, tradicionalmente mais ligada a ferramentas e linguagens desenvolvidas pela Microsoft. Notei que, apesar deste facto, a adesão de espectadores foi elevada, tendo uma das sessões chegado mesmo a esgotar a lotação (Hands-On Lab). Claro que não tenho elementos que me permitam dizer concretamente quantos dos espectadores seriam de outras zonas do país ou até do exterior, mas fiquei com a sensação de que a linguagem Java atrai já muitos profissionais e estudantes do Norte.

Outra razão prende-se com o facto de que assistir a este evento, proporcionou a quem lá esteve a percepção da dimensão do fenómeno Java na nossa vida, ainda que, por vezes, oculto no nosso quotidiano, nomeadamente no software dos cartões SIM que todos utilizamos nos nossos telemóveis. A versatilidade de Java, desde o programa básico à plataforma empresarial mais complexa, passando pela sua utilização em hardware, fazem com que Java seja uma possível resposta à maioria das necessidades que um programador pode enfrentar.

As apresentações e os vários temas escolhidos não desiludiram, e abordaram sempre software open-source, o que nos dá maiores garantias de continuidade, na minha perspectiva. Como não podia deixar de ser, falarei um pouco de cada uma das apresentações:



  • Apesar da sessão da manhã (plenária, gerida pela multinacional Sun), ter sido efectuada em inglês (cada vez mais uma língua obrigatória nesta “Aldeia Global”), o evangelhista Java Simon Ritter, teve a capacidade de a conduzir de forma clara e bem perceptível. Começou por falar das inovações previstas para o novo JDK7, a concluir em 2010, algumas das quais visando a simplificação do código utilizado nas classes Java, nomeadamente no encerramento de alguns métodos, evitando código previsível que passa a ser controlado automaticamente. Apesar do JDK7 ser da Sun, permite que o projecto paralelo OpenJDK seja gerido por uma comunidade open-source;

  • Explicou e demonstrou a versão 1.2 do JavaFX, que promete estar ao nível dos designers mais exigentes, acabando com a argumentação de quem acha (como eu!) que Swing e AWT já têm uma imagem ultrapassada e demasiado “cinzenta”;
  • Falou também da última versão do conhecido IDE Netbeans, o qual inclui agora suporte a JavaFX e às novidades ao nível do projecto Glassfish, entre outras revisões mais, com pacotes de instalação para os vários sistemas operativos;
  • Já de tarde, mas ainda fazendo parte da sessão plenária da Sun, assistiu-se à apresentação, por Artur Alves, das novidades na versão 3 do projecto Glassfish, que procura englobar várias plataformas OSS numa só, criando mecanismos de interacção entre elas, por exemplo ao nível das autenticações SSO. Gostei particularmente da Sun ter adaptado para uso como Portal Server a plataforma Liferay, já com provas dadas nos últimos anos, bem como usar ainda MySQL como base de dados preferencial, apesar da compra da Sun pela Oracle;



  • Não tendo presenciado a sessão paralela Hands-On Lab, pois optei pela gerida pelo PTJUG (do qual falarei adiante), não pude observar o que lá se passou. Mas a lotação esgotada e o facto de permitir a quem tinha consigo um portátil, de colocar em prática parte daquilo que anteriormente ouviu falar, quase que me permitem concluir que também esta sessão terá sido um sucesso;




  • A sessão paralela, ao encargo do grupo português de utilizadores Java, o PTJUG, englobou três apresentações. A primeira das quais, direccionando-se para a demonstração de Stripes, foi efectuada por Samuel Santos, programador, membro activo do PTJUG, e contribuidor para a definição de standards internacionais de programação. Esta framework MVC de desenvolvimento Java para web, propõe-se simplificar os métodos e acções que dão origem a uma aplicação web. Depois desta boa apresentação, também eu fiquei convencido de que houveram no Stripes muitas simplificações, face a outras frameworks web orientadas a acções, como Struts. Pelo menos face ao Struts original, visto que confesso desconhecer as alterações ocorridas desde que a junção Struts e Webwork deram origem a Struts2;




  • De seguida foi a apresentação de Ruben Badaró, um dos três Leaders do PTJUG, que procurou explicar as diversas abordagens possíveis, quando em desenvolvimento nos deparamos com enormes quantidades de fluxos concorrentes, para acesso a um mesmo recurso. A utilização de caches, de bases de dados não relacionais (ex. Berkeley BD), de múltiplos servidores (perspectiva horizontal), de aumento de CPUs e/ou outros elementos em cada servidor (perspectiva vertical), são alguns dos exemplos apresentados;




  • Para finalizar a sessão, Hugo Pinto, CEO da KnowledgeWorks, também ele membro muito activo do PTJUG, falou-nos da sua experiência pessoal num projecto desenvolvido para o Ministério da Educação. Este projecto assentava numa arquitectura SOA. Ficou bem demonstrada a estrutura de uma tal arquitectura, bem como as vantagens desta, quer ao nível das comunicações internas entre os componentes de uma aplicação web MVC, quer dos acessos ao servidor a partir de diferentes entidades, com permissões de acesso distintas. Ficou ainda subjacente a diferença entre uma arquitectura SOA de raiz, e uma arquitectura com web-services incluídos mas não desenhada para tirar o máximo partido destes.




Fica aqui uma imagem do auditório onde decorreu a sessão do PTJUG, onde é possível confirmar o grande número de espectadores presentes.

Eu não estaria a ser totalmente isento nesta minha abordagem ao JavaPT09, se não referisse também os pontos que menos me agradaram (felizmente foram poucos). Em primeiro lugar, estranhei que em todas as apresentações de produtos de software, apenas se falasse das vantagens desses produtos, ignorando por completo referências àquilo em que estes precisam de melhorar ou que estão menos bem colocados face aos concorrentes directos. Acredito que a necessidade de cumprir tempos pré-estabelecidos desse prioridade às vantagens, nalguns casos acrescida de imperativos de marketing. Ainda assim, uma análise justa deveria ser mais abrangente. Em segundo lugar, o desconhecimento que os apresentadores da Sun alegaram (e não ponho esse facto em causa), acerca dos motivos comerciais e estratégicos que levaram à aquisição da sua empresa pela Oracle, bem como do futuro do software open-source actualmente sob tutela da Sun, nomeadamente MySQL, Netbeans e o próprio JDK. Continuarão totalmente abertos a comunidades de desenvolvimento open-source, ou passarão a projectos proprietários no futuro, obrigando os actuais projectos open-source a seguir por caminhos distintos?

Para finalizar, e pegando nas palavras de Ruben Badaró proferidas no final da sua apresentação, deixo uma breve descrição do que é o PTJUG e a quem se destina. Posso dizer que se trata de um grupo português de utilizadores de Java, com quase 500 membros, que se destina essencialmente à troca de preciosas informações e experiências entre profissionais do desenvolvimento de software em Java, mas que se encontra também aberto a todos aqueles que têm curiosidade em experimentar esta linguagem de programação, ou nesta se encontra ainda a dar os primeiros passos. Pela experiência pessoal, posso dizer que as questões que ao PTJUG até agora submeti, foram respondidas de uma forma bastante célere. Em resumo, é na partilha de conhecimentos que este grupo tem o seu grande valor, organizando até eventos periodicamente. Quem partilhar do interesse por Java, não pode deixar de se registar no grupo ou conhecer o seu site. Poderá ainda pesquisar as ofertas de emprego no grupo PTJUG-emprego. Com a assinatura do Protocolo de Criação do Centro de Competência de Java, na Universidade do Minho, no início do JavaPT09, fico convicto que o Norte vai começar a mostrar a sua força e presença no PTJUG.

E assim foi o JavaPT09. Fico ansiosamente à espera do próximo evento Java, da Sun ou do PTJUG.

Nota: Deixo aqui os meus agradecimentos a Tiago Rico (PTJUG) e a Luís Guimarães (Sun Portugal), por me terem facultado as fotos aqui apresentadas.

Comentários

  1. "expectadores"??? Por que? Os espectadores estavam na expectativa?

    :)))))

    ResponderEliminar
  2. Foi só um pequeno reparo humorístico :) o que interessa mesmo é q o teu artigo está muito bom, principalmente para quem como eu nao esteve lá...

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

Conferência Europeia da Comunidade Alfresco

Já foi há quase quinze dias, mas julgo que ainda será relevante abordar a Conferência Europeia da Comunidade Alfresco, que decorreu em Barcelona no dia 22 de Abril. Com uma audiência de mais de 200 pessoas (a sala reservada estava cheia) vindas de vários pontos da Europa, este evento serviu para que muita gente desta comunidade se encontrasse pela primeira vez face a face. A Alfresco Inc. é uma empresa recente, que apostou em criar uma solução de gestão documental de topo de gama usando o modelo open-source . Considerando que a empresa, no seu terceiro ano de actividade, já atingiu o break-even , parece ter sido uma boa aposta. No arranque da conferência esteve John Powell, CEO da empresa, que falou um bocado sobre a excelente evolução da empresa e abordou a "guerra" entre o modelo de negócios proprietário e o modelo de código aberto. Exemplificou este conflito com o Microsoft SharePoint, que ele designou como "a morte da escolha", justificando o epíteto pelo facto

Backup automático de disco USB (pen drive)

Hoje em dia toda a gente tem uma pen drive para levar os seus ficheiros de um lado para o outro. E muitas vezes está lá trabalho importante. Mas impõe-se uma pergunta: o que acontece se se perde a pen drive ? Ou se esta se avaria? Quem é que faz backups regulares da pen drive ? Muito pouca gente! Pessoalmente tenho por hábito fazer um backup cerca de uma vez por semana. Quando o trabalho é muito, faço backup mais vezes. Mas já por duas vezes as avarias me fizeram perder as versões mais recentes. E isto chateia. Por isso aqui há uns dias decidi "coçar esta comichão" e resolver o problema de forma mais sistemática: arranjei maneira de fazer um backup automático cada vez que ligo a pen drive a um computador. (sim, eu sei que há software específico para isto, mas que querem, apeteceu-me fazer mais um) A receita é relativamente simples: um script (DOS batch file ) que faz o backup , um ficheiro de definição de autorun e já está. 1. O script de backup - Basta instalar, na roo

Horário de trabalho

A trabalhar há dois meses na Irlanda, ando para escrever alguns apontamentos daqui de Dublin, mas são tantos e tão diversos que há matéria aqui para escrever um blog inteiro (e talvez ainda o faca se a inspiração vier em meu auxílio). Há no entanto uma diferença que encontrei por aqui que é muito mais marcante do que eu poderia supor poder ser, e lembrei-me deste ponto que talvez se acomode bem neste blog e no tipo de posts que por aqui há. Falo do horário de trabalho . O horário que por aqui se pratica, e que suponho generalizado, é de entrar as 9h e sair as 17h, com meia-hora de almoço. Ou seja, 7 horas e meia. Ou seja, meia-hora de diferença para o horário "normal" de Portugal. E que diferença que essa diferença faz... Os irlandeses não são muito "fanáticos" com o trabalho e os horários, não se trata de regimes "autoritários" como parece ser em Inglaterra ou na Alemanha - a propósito, sabem que os alemães dizem que na Alemanha a taxa de criminalidade é