Avançar para o conteúdo principal

"Porque não contratamos programadores .Net"

David Barrett, CEO da Expensify, escreveu no seu blogue um post que criou uma tempestade nas comunidades de programação. O post tem o título "Porque não contratamos programadores .Net", que provocou naturalmente fortes reacções negativas nos programadores que usam aquela plataforma e muitos sorrisos em todos os outros.

O post é sobre a procura de bons programadores para contratar e ele faz algumas afirmações curiosas.

Começando pelo tipo de pessoa que a empresa dele procura:
"... ter experiência é barato. Só é preciso ter tempo. Competência é mais difícil, mas apenas implica trabalho árduo. Já atitude... ou se tem ou não se tem."
 E como é que ele avalia se uma pessoa tem a atitude que é necessária?
"O tipo certo de pessoa tem uma paixão tão grande por programação que não consegue parar de o fazer. Tipicamente começou antes da escola secundária e nunca mais olhou para trás. Escreve tudo, desde assembly a jQuery, em PCs ou telefones móveis, desde computação gráfica a redes sociais. Experimentou tudo. Tudo, excepto .Net"
Pessoalmente, acho isto um bocado exagerado. Mas um bocadinho desta paixão que ele descreve não fazia mal a muita gente que anda por aí na área das TI.

Mas voltemos ao post. Porquê tudo menos .Net?
"Programar em .Net é como cozinhar numa cozinha do McDonalds. (...) A cozinha do McDonalds faz exactamente o que está no menu do McDonalds (...) Mas não é possível sair do menu, e qualquer tentativa de vergar a máquina à tua vontade vai simplesmente avariá-la de tal modo que terá que voltar à fábrica para ser reparada. (...) Ora nós procuramos um tipo de pessoa muito direrente. A pessoa que cresceu a apanhar e cozinhar esquilos no espeto numa fogueira de campismo. Não queremos um cozinheiro de comida rápida. (...) Precisamos de gente que consegue cozinhar qualquer coisa, desde o princípio. Ora, a Microsoft, intencionalmente, criou o .Net para ser diferente de tudo o resto, mantendo o programador à distância dos detalhes e na total dependência das ferramentas de programação que pensam tudo por ele. (...) Cada dia passado nesta cozinha é um dia que não foi passado numa cozinha real, a cozinhar comida real, a escrever código real. Pior: cada dia que se passa numa cozinha Microsoft leva dois dias a desaprender, o que significa que, quando se entrou razoavelmente no caminho .Net quase já não há caminho de regresso. Ficou-se tão embrenhado em ferramentas e técnicas que não têm qualquer relevância fora do .Net, que é-se de facto menos valioso para uma startup do que se estivesse a dormir uma longa sesta."
Não posso deixar de concordar, pelo menos parcialmente, com a visão dele sobre a plataforma .Net. Infelizmente, ao contrário do que ele deixa entender, o .Net não é a única plataforma concebida para "agarrar" o programador e o tornar dependente.

Tipicamente,  as plataformas proprietárias tentam criar esta dependência. Faz parte do jogo comercial, para que as receitas continuem a vir durante muitos anos. Por outro lado, se se tiver sorte, talvez se escolha um fabricante com um mínimo de ética que nos ajude de facto, sem nos sugar o valor que criámos.

Quanto se escolhe uma plataforma proprietária é preciso ter muito cuidado. Há que distinguir os simbiontes dos parasitas.

E o melhor mesmo, usando as palavras do David Barrett, é mantermos sempre a nossa capacidade de apanhar esquilos no bosque e assá-los no espeto à fogueira.

Comentários

  1. Eu programava em várias ferramentas, aí comecei trabalhar com .net. Durou meio ano, não aguentei, chutei tudo, e voltei a programar de verdade. Interessante o artigo, mas claro, ele é parcial, e eu só concordo com ele porque a minha experiência com .net é ruim.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

Conferência Europeia da Comunidade Alfresco

Já foi há quase quinze dias, mas julgo que ainda será relevante abordar a Conferência Europeia da Comunidade Alfresco, que decorreu em Barcelona no dia 22 de Abril. Com uma audiência de mais de 200 pessoas (a sala reservada estava cheia) vindas de vários pontos da Europa, este evento serviu para que muita gente desta comunidade se encontrasse pela primeira vez face a face. A Alfresco Inc. é uma empresa recente, que apostou em criar uma solução de gestão documental de topo de gama usando o modelo open-source . Considerando que a empresa, no seu terceiro ano de actividade, já atingiu o break-even , parece ter sido uma boa aposta. No arranque da conferência esteve John Powell, CEO da empresa, que falou um bocado sobre a excelente evolução da empresa e abordou a "guerra" entre o modelo de negócios proprietário e o modelo de código aberto. Exemplificou este conflito com o Microsoft SharePoint, que ele designou como "a morte da escolha", justificando o epíteto pelo facto

Backup automático de disco USB (pen drive)

Hoje em dia toda a gente tem uma pen drive para levar os seus ficheiros de um lado para o outro. E muitas vezes está lá trabalho importante. Mas impõe-se uma pergunta: o que acontece se se perde a pen drive ? Ou se esta se avaria? Quem é que faz backups regulares da pen drive ? Muito pouca gente! Pessoalmente tenho por hábito fazer um backup cerca de uma vez por semana. Quando o trabalho é muito, faço backup mais vezes. Mas já por duas vezes as avarias me fizeram perder as versões mais recentes. E isto chateia. Por isso aqui há uns dias decidi "coçar esta comichão" e resolver o problema de forma mais sistemática: arranjei maneira de fazer um backup automático cada vez que ligo a pen drive a um computador. (sim, eu sei que há software específico para isto, mas que querem, apeteceu-me fazer mais um) A receita é relativamente simples: um script (DOS batch file ) que faz o backup , um ficheiro de definição de autorun e já está. 1. O script de backup - Basta instalar, na roo

Horário de trabalho

A trabalhar há dois meses na Irlanda, ando para escrever alguns apontamentos daqui de Dublin, mas são tantos e tão diversos que há matéria aqui para escrever um blog inteiro (e talvez ainda o faca se a inspiração vier em meu auxílio). Há no entanto uma diferença que encontrei por aqui que é muito mais marcante do que eu poderia supor poder ser, e lembrei-me deste ponto que talvez se acomode bem neste blog e no tipo de posts que por aqui há. Falo do horário de trabalho . O horário que por aqui se pratica, e que suponho generalizado, é de entrar as 9h e sair as 17h, com meia-hora de almoço. Ou seja, 7 horas e meia. Ou seja, meia-hora de diferença para o horário "normal" de Portugal. E que diferença que essa diferença faz... Os irlandeses não são muito "fanáticos" com o trabalho e os horários, não se trata de regimes "autoritários" como parece ser em Inglaterra ou na Alemanha - a propósito, sabem que os alemães dizem que na Alemanha a taxa de criminalidade é