Avançar para o conteúdo principal

Parasitagem - II - (Proj. Lei 118/XII do P.S.)

Após as audições da Comissão Parlamentar de Educação, Ciência e Cultura, em que participaram também a ANETIE e a ANSOL, o grupo parlamentar do PS apresentou uma série de propostas de alteração ao seu Projecto Lei 118/XII. Não podemos deixar de saudar aquilo que aparenta ser o reconhecimento do exagero absurdo que tinha sido proposto anteriormente. No entanto, as alterações que o PS concede estão muito aquém do que será necessário. Vejamos.

Como nunca se tinham dado ao trabalho de fazer as contas e perceber como estava mal elaborado o cálculo da taxa, os deputados do PS são agora obrigados a estabelecer um tecto máximo de 6% sobre o valor de cada produto. É que havia estimativas que punham a taxa num valor superior a 100% daqui a um ano ou dois para certos tipos de equipamento e isso acabou por ser uma proposta insustentável. No entanto, uma taxa nacional de 6% sobre estes equipamentos colocará, mesmo assim, uma pressão injusta sobre os preços dos importadores nacionais, e provocará um efeito semelhante ao que ocorre nos combustíveis: é mais barato comprar em Espanha. Com a importante diferença de que é muito mais prático para uma empresa de Lisboa ou do Porto mandar vir equipamentos electrónicos de Madrid do que combustíveis de Badajoz.

Os deputados do PS propõem também que as taxas sejam revistas anualmente ou bianualmente, por diploma do Governo. Por mais interessante que esta medida seja ao nível da criação de emprego (de assessores do Governo) a verdade é que demonstra bem a incapacidade de criar leis justas e perenes. É que não faz sentido nenhum criar leis que ficam desactualizadas ao fim de um ano. O que faz sentido é criar leis que sejam sólidas e que combatam a excessiva carga "jurídica" que a sociedade portuguesa tem e que tanta dificuldade coloca depois à aplicação da Justiça.

O projecto de lei 118/XII pode ser criticado de várias formas. No entanto, para os utilizadores de informática, podemos destacar alguns pontos mais relevantes:
  • Entre outros equipamento, é proposta a taxação de dispositivos de armazenamento, o que  prejudica empresas de TI e seus clientes ("apenas" todas as empresas do País), que são os maiores utilizadores de sistemas de armazenamento digital
  • A utilização de equipamentos de armazenamento é, maioritariamente, para fins de gestão interna - bases de dados, arquivos documentais, email, etc.
  • A taxação prejudica gravemente a internacionalização de negócios de alojamento de serviços na web, que necessitam de enormes volumes de armazenamento
  • A taxação prejudica a competitividade dos importadores nacionais, levando os clientes a fazer encomendas em sites internacionais
  • Taxar armazenamento digital será tão absurdo como taxar comunicações ou energia eléctrica, pelo facto de se taxar um bem ou serviço que, maioritariamente, é utilizado para fins não relacionados com a arte digital
  • Comparativamente, seria equivalente a taxar o papel para financiar os escritores que não conseguem vender os seus livros

Segundo a notícia do Público, a ex-ministra Gabriela Canavilhas, afirmou "Esta matéria [a cópia privada] é uma questão de princípio e a nossa primeira preocupação com este diploma é salvaguardar os direitos dos autores (...) Os nossos autores estão há muitos anos a perder receita considerável por via da desadequação da lei que está em vigor neste momento!". Em relação a isto, o que ocorre responder é que, para quem vê as coisas deste lado, quem está a perder receita há muito anos é um conjunto de "gestores de direito de cópia" que se agarram a um modelo de negócio ultrapassado e que ainda conseguem manter alguns autores reféns de contratos leoninos. E que o PS, por via deste projecto de lei, está simplesmente a propor que este tipo de negócio, tornado inviável pela evolução da tecnologia, seja mantido artificialmente através da cobrança desta taxa a todos os utilizadores de informática.

Inaceitável.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Conferência Europeia da Comunidade Alfresco

Já foi há quase quinze dias, mas julgo que ainda será relevante abordar a Conferência Europeia da Comunidade Alfresco, que decorreu em Barcelona no dia 22 de Abril. Com uma audiência de mais de 200 pessoas (a sala reservada estava cheia) vindas de vários pontos da Europa, este evento serviu para que muita gente desta comunidade se encontrasse pela primeira vez face a face. A Alfresco Inc. é uma empresa recente, que apostou em criar uma solução de gestão documental de topo de gama usando o modelo open-source . Considerando que a empresa, no seu terceiro ano de actividade, já atingiu o break-even , parece ter sido uma boa aposta. No arranque da conferência esteve John Powell, CEO da empresa, que falou um bocado sobre a excelente evolução da empresa e abordou a "guerra" entre o modelo de negócios proprietário e o modelo de código aberto. Exemplificou este conflito com o Microsoft SharePoint, que ele designou como "a morte da escolha", justificando o epíteto pelo facto

Backup automático de disco USB (pen drive)

Hoje em dia toda a gente tem uma pen drive para levar os seus ficheiros de um lado para o outro. E muitas vezes está lá trabalho importante. Mas impõe-se uma pergunta: o que acontece se se perde a pen drive ? Ou se esta se avaria? Quem é que faz backups regulares da pen drive ? Muito pouca gente! Pessoalmente tenho por hábito fazer um backup cerca de uma vez por semana. Quando o trabalho é muito, faço backup mais vezes. Mas já por duas vezes as avarias me fizeram perder as versões mais recentes. E isto chateia. Por isso aqui há uns dias decidi "coçar esta comichão" e resolver o problema de forma mais sistemática: arranjei maneira de fazer um backup automático cada vez que ligo a pen drive a um computador. (sim, eu sei que há software específico para isto, mas que querem, apeteceu-me fazer mais um) A receita é relativamente simples: um script (DOS batch file ) que faz o backup , um ficheiro de definição de autorun e já está. 1. O script de backup - Basta instalar, na roo

Horário de trabalho

A trabalhar há dois meses na Irlanda, ando para escrever alguns apontamentos daqui de Dublin, mas são tantos e tão diversos que há matéria aqui para escrever um blog inteiro (e talvez ainda o faca se a inspiração vier em meu auxílio). Há no entanto uma diferença que encontrei por aqui que é muito mais marcante do que eu poderia supor poder ser, e lembrei-me deste ponto que talvez se acomode bem neste blog e no tipo de posts que por aqui há. Falo do horário de trabalho . O horário que por aqui se pratica, e que suponho generalizado, é de entrar as 9h e sair as 17h, com meia-hora de almoço. Ou seja, 7 horas e meia. Ou seja, meia-hora de diferença para o horário "normal" de Portugal. E que diferença que essa diferença faz... Os irlandeses não são muito "fanáticos" com o trabalho e os horários, não se trata de regimes "autoritários" como parece ser em Inglaterra ou na Alemanha - a propósito, sabem que os alemães dizem que na Alemanha a taxa de criminalidade é