A Associação Empresarial de Portugal (AEP), ciente das dificuldades das empresas nacionais em se afirmarem no seu próprio mercado lançou uma interessante campanha designada "Compro o que é nosso".
O objectivo principal é levar os consumidores a compreender que é melhor para eles optar por produtos de qualidade feitos por empresas nacionais sérias e manter a riqueza dentro do país, em vez optar por produtos estrangeiros.
É um objectivo nobre e inteligente, porque se o consumidor não tiver consciência do que faz quando compra produtos baratuchos feitos por populações pobres e exploradas acabaremos todos por ficar iguaizinhos a esses povos. O consumidor tem o poder, mas não o sabe.
Mas há dois objectivos adicionais, que são também muito importantes: convencer os empresários e convencer os trabalhadores a produzirem melhor. Isto é: sacudir o marasmo, rejeitar a mediocridade e melhorar os resultados da sua actividade.
Mas este é um blogue ligado às TIC (tecnologias de informação e comunicação), e esta questão também se põe neste sector, se bem que de forma ligeiramente diferente.
A verdade é que as TIC em Portugal também precisam de uma campanha deste género. Há demasiados profissionais de TIC conformados com o estado de coisas. E há demasiados compradores convencidos que as TIC em Portugal são "menores" que lá fora.
Que fazer para convencer as organizações portuguesas a comprar TIC nacionais? A questão é muito vasta e certamente dará "pano para mangas" mas aqui ficam algumas sugestões aos intervenientes neste mercado.
Aos compradores (especialmente aos maiores como o Estado):
- Comprem mais serviços aos profissionais nacionais e menos licenças de software de valor discutível aos fabricantes estrangeiros - vantagens: a riqueza fica no país e os técnicos nacionais ganham experiência para os servir melhor no futuro; o know-how que venha a ser desenvolvido poderá ser exportado e todos ganharemos com este crescimento
- Invistam no apuramento do software e não nas máquinas - em vez de gastarem dinheiro em novas tecnologias que depois serão aproveitadas em 10%, explorem as tecnologias já adquiridas ao máximo, através dos serviços dos profissionais nacionais, que são bons
- Quando a coisa entra em pormenores técnicos fastidiosos, apoiem-se em consultores independentes, por oposição a consultores-vendedores. Acreditem que vos vai ficar muito mais barato.
- Valorizem a experiência e os resultados, em vez da marca.
- A Informática vai muito para além de ser capaz de instalar PC's e impressoras em rede, ou fazer brincadeiras com Access. O Sistema de Informação é a peça essencial do funcionamento de qualquer organização. É aí que está o valor das TIC, e não na infraestrutura.
- Estudem standards, tecnologias e as melhores práticas da profissão e apliquem-nas no dia-a-dia de forma criteriosa, sempre com o sentido na produtividade e melhoria de resultados.
- Não se comportem como vendedores das multinacionais estrangeiras. Em vez de estarem sistematicamente a sugerir o upgrade para a "nova versão" sugiram o aproveitamento do parque existente.
- O software de código aberto é vosso amigo. Não só vos facilita a aprendizagem e o serviço ao cliente como, pelo facto de ser aberto, vos abre a possibilidade de prestar novos tipos de serviços, impensáveis no modelo de software de código fechado.
- Os estrangeiros não são melhores técnicos que nós (é a experiência que fala), pelo contrário. Mas temos que saber gerir melhor o nosso trabalho e a nossa imagem.
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