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Recém-licenciados das TI não sabem produzir sistemas de informação

Uma das conclusões mais chocantes do recente trabalho "Competências a reforçar na formação dos profissionais de TI em Portugal", do Grupo de Trabalho das Competências, da ANETIE é que os recém-licenciados não sabem o suficiente sobre construção de interfaces nem sobre produção de informação.

Não conheço estatísticas sobre esta matéria. Mas julgo que não estará muito longe da verdade a afirmação de que mais de 90% dos licenciados em cursos ligados às TI estarão envolvidos profissionalmente na produção ou exploração de Sistemas de Informação de Gestão. Isto é: bases de dados, formulários electrónicos, relatórios operacionais ou analíticos, troca de informação entre sistemas, etc..

Ora o que a ANETIE apurou junto dos seus associados é que entre as maiores lacunas encontradas nos licenciados do sector que se vão depois dedicar à engenharia de software, os conhecimentos sobre coisas básicas como écrans de entradas de dados e emissão de relatórios são extremamente baixos.

Outra queixa frequente das empresas é a falta de domínio da Língua Portuguesa. Não posso senão concordar. Nesta era da Internet, escreve-se e lê-se mais do que nunca, mas a qualidade da escrita e da interpretação está a baixar de forma preocupante. A iliteracia funcional, alastra mesmo ao pessoal que chega ao nível de uma licenciatura, e a responsabilidade de resolver o problema deve ser assumida por toda a sociedade.

O trabalho realizado pela ANETIE hierarquizou as lacunas na formação em três carreiras distintas: engenharia de software, engenharia de sistemas e comercial. Para as três carreiras, as empresas destacam uma lacuna comum: a falta de competência em normalização e processos, que se associa às questões das normas de qualidade, maturidade, gestão do serviço, etc., e que está relacionada com a imagem projectada pela empresa e também com a sua eficiência.

No quadro geral das lacunas encontradas na formação dos profissionais de TI, a ANETIE apurou que deverá haver uma maior preocupação com as soft-skills. O topo da tabela geral de preocupações ficou assim:
  1. GESTÃO POR OBJECTIVOS
  2. GESTÃO DE EQUIPAS E LIDERANÇA
  3. COMUNICAÇÃO ESCRITA
  4. COMUNICAÇÃO PRESENCIAL
  5. NORMALIZAÇÃO E PROCESSOS
  6. MELHORIA CONTÍNUA E INOVAÇÃO
  7. PENSAMENTO CRÍTICO
  8. SEGURANÇA
  9. GESTÃO DE CONFLITOS E INTELIGÊNCIA EMOCIONAL
  10. ARQUITECTURAS E SISTEMAS DISTRIBUÍDOS
Para quem não tiver tempo para ler o Relatório, sugere-se a leitura do excelente resumo produzido pela Semana Informática nº 868.

Comentários

  1. Devo dizer que discordo bastante da vossa interpretação dos resultados. Se virem bem, tanto os Engenheiros de Software como os Engenheiros de Sistemas, têm necessidades de Hard Skills (4 Hard Skills nas top 5, cada um).
    Só se somarem os comerciais - que a meu ver, não são bem técnicos - é que têm esses resultados. Mas é lógico, um comercial não precisa de saber de linguagens mas todos os profissionais são avaliados na gestão por objectivos, como tal, os comerciais são mais avaliados pelas soft skills e deviam ser postos à parte.

    Por isso, na realidade, para Engenheiros de Software e de Sistemas (a grande maioria dos licenciados em informática) faltam é Hard Skills.

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  2. Discordo desta interpretação.
    Se se olhar para o relatório que fornecem, ve-se o seguinte:
    - 4 das top 5 lacunas de Engenheiros de Software, são hard skills
    - 4 das top 5 lacunas de Engenheiros de Sistemas, são hard skills
    - Só os comerciais têm mais soft skills no top.

    Penso que não se pode somar resultados de engenheiros e comerciais, principalmente por uma razão: as soft skills são comuns a todos e as hard skills não. Assim, quando se soma, aparecem as soft skills no topo simplesmente porque são comuns a todos os profissionais.

    Penso que se devia dizer claramente, que para Engenheiros de Software e de Sistemas - quem acaba cursos superiores de informática é isto que vai fazer! - têm mais lacunas nas hard skills.

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  3. Não conhecesse eu, como conheço, um dos autores deste relatório, e não soubesse eu, como sei, que é uma pessoa de um seriedade extrema e de um profissionalismo e empenho acima de qualquer dúvida, eu não teria como deixar de notar as lacunas de objectividade deste relatório. Mas como sei que faz parte do profissionalismo e da seriedade o procurar entender as críticas que são feitas, ainda que seja muitas vezes (mas não sempre) mais fácil criticar do que fazer, aqui deixo a minha opinião, que claro está vale tão somente por aquilo que vale.

    Ainda que este trabalho trate de uma análise a um inquérito cujas respostas são por natureza subjectivas, após ler este relatório a palavra que mais me ocorre para o caracterizar é "omisso".

    Omisso, porque não se descreve nenhuma metodologia de trabalho. Apenas se refere que foi efectuado um "levantamento" e com base nesse "levantamento" foi efectuado um "inquérito". O levantamento, com base em "experiência partilhada por vários associados" e o inquérito "a todos os associados". Que "levantamento" foi esse? Um outro inquérito? Uma pesquisa informal? Conhecimento mais ou menos empírico? Esse "levantamento" resultou em que? Na escolha das "skills" a serem consideradas? Nos "perfis" apresentados? E porque estes e não outros? Decerto por bons motivos que não nos foram facultados.

    Omisso, porque não se quantifica nenhum dos parâmetros enunciados. Não se sabe quantos foram os "vários associados" sobre os quais foi efectuado o "levantamento". Não se sabe quantos são "todos os associados" e por conseguinte nada se sabe quanto ao numero das empresas que realmente responderam ao inquérito.

    Omisso ainda porque dos poucos dados concretos fornecidos não foi citada nenhuma fonte. Diz-se que existem cerca de 12.400 trabalhadores em TI em Portugal sem citar qualquer fonte, sendo que as empresas que responderam, em numero não revelado, representam 25% desse numero. E que são responsáveis por um volume de negócios total de 325M€. Sem indicacao da fonte, novamente.

    Omisso finalmente porque não apresenta qualquer taxonomia das empresas envolvidas, pelo menos se são pequenas/medias empresas, grandes empresas a nível nacional ou multinacionais. Ou uma simples classificação por numero de trabalhadores. Tal caracterização pode revelar diferentes realidades que talvez possam identificar problemas e/ou suas origens que talvez não sejam perceptíveis numa perspectiva unilateral.

    Sem pelo menos uma quantificação da base de trabalho, o que representam valores como 28, 32 ou 74? Valores numa escala de 0 a X? Valores em percentagem? Que interessa saber que em votações de 0, 1 ou 2 aquele ponto atingiu 28 se nem sequer se sabe quantas empresas se pronunciaram? 28 num universo de que? A única conclusão legitima é de que aquela alínea com 28 pontos causa o dobro da preocupação daquela outra com 14. Nada mais é possível extrair daqui.

    E que dizer de apreciações como "não será correcto concluir" e "a leitura correcta", quando os resultados, sendo o que são, não permitem quaisquer conclusões para alem da relatividade de cada ponto posto a sufrágio? Aqui não se apresentam conclusões derivadas dos dados, mas antes se intui aquilo já antes se intuía pela simples "experiência partilhada por vários associados", não sendo necessário um inquérito e um relatório, mas sim um artigo de opinião, decerto bem fundamentado na experiência diária de quem lida com estes problemas de forma responsável.

    Este estudo parece-me pois uma tentativa louvável, repito, louvável, de revelar problemas que é sabido existirem, de propor soluções que se desejam efectivas, de promover decisões que urge tomar, enfim, de tentar influenciar de alguma maneira o curso da evolução do ensino de TI, que bem precisa, mas que, a bem do rigor, deveria ser talvez apresentado sob uma outra envolvente, sem que isso invalidasse a bondade e a efectividade das conclusões que aqui se obtiveram, que estou certo que o são.

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  4. O Rúben faz uma crítica ao facto de se somarem as pontuações das 3 "carreiras" para obter uma pontuação global. E, até certo ponto tem razão. No entanto há alguns argumentos a favor de uma pontuação global.

    Uma boa parte dos técnicos vai acabar por ter responsabilidades de gestão de equipas ou mesmo de gestão da empresa. isso significa que as hard-skills, que são fundamentais, não chegam para que o técnico e a empresa sejam bem sucedidos. E quanto mais cedo as soft-skills forem adquiridas melhor.

    Por outro lado, há uma tendência cada vez maior de tornar a actividade comercial uma responsabilidade de todos os elementos da organização (com uma especialização maior de alguns, claro). Isto, de alguma forma, dilui a separação entre a carreira comercial e as outras.

    Para cúmulo, não há uma única universidade que tenha um curso de marketing ligado à informática (e se calhar nem faz sentido), pelo que os comerciais terão de vir, frequentemente, de carreiras técnicas.

    Concluindo: a leitura do quadro de pontuação global tem que ser feita com cuidado, mas não me parece que seja desprovida de sentido.

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  5. O nosso colega Mota faz algumas observações sobre o relatório e o inquérito que julgo que merecem uma resposta. Até porque ele deve ter sido uma da meia dúzia de pessoas que se deu ao trabalho de ler mesmo o trabalho. :-)

    Começando pelo mais fácil. A ANETIE tem cerca de 100 empresas associadas e houve uma resposta um pouco superior a 20%. A avaliação do peso dos respondentes na indústria foi realizada pelos serviços administrativos da ANETIE com base em inquéritos anteriores e no conhecimento existente sobre os sócios.

    Quanto às pontuações obtidas e à forma como foram apresentadas, concordo que poderíamos ter dado mais informação de forma a melhorar os aspectos "científicos" do trabalho. Infelizmente o óptimo é inimigo do bom e, nessa perspectiva, o Grupo de Trabalho e a Direcção acharam melhor publicá-lo assim, de modo a não adiar por mais tempo a discussão destas matérias.

    Aliás, foi com a consciência de que há muito a aprofundar, que sugerimos no ponto "Medidas propostas / Instituições de Ensino Superior", que as Academias estudassem estas questões de uma forma mais científica. Resta saber se o desafio é aceite.

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  6. Isso quer dizer que apenas cerca de 20 empresas responderam, num universo de cerca de 100? No site da ANETIE, só classificadas como Tecnologias de Informação estão mais de 200 companhias, e um relatório recente da IDC debruçou-se sobre "260 empresas representativas de 95% do total do volume de negócios do sector". Assim sendo, 20 empresas neste universo nem com boa vontade se pode chamar de amostra representativa.

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  7. Mais do que o número absoluto de empresas, importa olhar à percentagem de recursos humanos elas gerem no sector. Citando o relatório: "As empresas que responderam ao inquérito representam, segundo o que foi
    possível apurar, cerca de 25% da força de trabalho das TIC nacionais – cerca
    de 3.100 colaboradores."


    Ora 25% da força de trabalho do sector dificilmente se pode considerar uma amostra insignificante.

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  8. Isso é tremendamente discutível, basta agrupar 3 das maiores empresas para obter esses 25%, que conclusão é que disso se pode tirar para o caso em apreço? A priori, seria de esperar que todas as empresas sintam o mesmo tipo de dificuldades em relação a falta de competências existente no mercado, e isso não depende do numero de trabalhadores que emprega.

    Mas enfim, creio que isso dependerá do ponto de vista de cada um, e está claro que o que "vale" é o de quem fez o trabalho mais do que o que o comenta...

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  9. Em relação à pontuação global, concordo que temos de ganhar soft-skills mas essas já estão a ser avaliadas nas classificações individuais, a classificação global não adiciona relevância.

    Em relação à área comercial, penso que há pessoas que querem seguir uma carreira técnica e pessoas que preferem evoluir para a área de gestão. Se há caminhos diferentes, a visão global apenas os mistura.

    Penso que a leitura devia ser feita sem assumir que a evolução inclui actuação de gestão ou comercial. Assumindo que a pessoa vai cumprir a sua profissão e evoluir na mesma.

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  10. Muito Bom post.

    Realmente, este flagelo agrava em muito a situação do pessoal...

    Na esperança de poder ajudar,

    deixo alguma informação adicional sobre trabalho temporário... não é solução, mas pode contribuir para um começo diferente... As pessoas não podem é desanimar! Força aí!

    Trabalho e Empregos Temporários para os Jovens Encontra tudo sobre o trabalho temporário para jovens. Descobre onde, como e em que contexto esta poderá ser uma solução! www.trabalhoparajovens.blogspot.com/

    Força!

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