Avançar para o conteúdo principal

[Causa perdida] Como ler correctamente um endereço de correio electrónico


Este é um post absolutamente inútil.

Mas tenho que confessar que não consigo deixar passar nem mais um dia sem me insurgir contra este hábito de misturar unidades de peso com o correio electrónico, que é pela sua natureza, praticamente imponderável.

De que se trata? Da história da arroba!

Recapitulemos: o dicionário diz-nos que "arroba" é uma unidade de medida de origem árabe, antigamente usada nos países ibéricos e suas colónias que corresponde a 14,4 Kg ou 11,3 Kg (consoante estivéssemos num país de influência portuguesa ou espanhola, respectivamente). Na escrita corrente, a arroba abreviava-se com o símbolo "@".

Entretanto, os anglo-saxónicos, que não pesavam as mercadorias em arrobas mas libras e coisas do género, usavam este símbolo para outras coisas. Quando os primeiros construtores de computadores seleccionaram um restrito conjunto de símbolos para serem codificados optaram, inteligentemente, por símbolos que lhes davam jeito. E o "@" lá estava. Mas eles não lhe chamavam arroba. Chamavam-lhe "at" (trad.: em).

O símbolo @ (at) foi usado, em informática, para diversas situações, das quais se destacam:
  • Na linguagem de programação BASIC, uma da primeiras a ser inventada, o símbolo "@" era usado para posicionar o cursor antes de escrever no écran (exemplo: @10,10 print "Hi!")
  • Na linguagem SQL, standard de acesso a bases de dados relacionais, pode-se usar um endereçamento com ":" e "@" para consultar bases de dados remotas, residentes noutras máquinas (exemplo: SELECT ... FROM tab1@bd2:mach3)
  • No correio electrónico, os utilizadores têm endereços compostos pelo seu nome e o domínio em que se inserem, separados pelo caracter "@" (exemplo: antonio.silva@patiodascantigas.pt)

Como se pode ver, o símbolo @ só tem uma tradução possível em informática: AT = EM. (Em: prep. que indica lugar, tempo, modo, causa, fim e outras relações)

Agora vejamos a leitura de um endereço de correio electrónico vulgar.

Como se deverá ler "ecadequeiroz@gazeta.pt"?
  • Eça de Queiroz arroba Gazeta de Portugal, ou...
  • Eça de Queiroz em Gazeta de Portugal?
Como dizem os anglo-saxónicos: it's a no-brainer!

Resumindo: o correio electrónico não tem peso, nem em quilos nem em arrobas! :-)

[este post foi reeditado após as pertinentes observações do António Mota e a consulta mais aprofundada da wikipedia sobre este assunto]

Comentários

  1. Eu detesto os ingleses tanto como qualquer um, mas há que reconhecer que neste caso não só foram os ibéricos que "roubaram" o símbolo como para além disso o fizeram erradamente...

    "To cut a long story short", como dizem esses malvados, o facto é que os catalães, ao verem a mercadoria que vinha de Inglaterra com o símblo @ (tambem conhecido como "em comercial" nos circulos mais puristas), e como por coincidência essas mercadorias vinham em arrobas, julgaram que aquele símbolo tinha esse significado. Quando não era mais do que a ligação entre unidades e valor que atribuíam a essa mercadoria, por exemplos 10@3£ - dez a 3 libras, com o significado de, precisamente, "at".

    Portanto, neste caso foram os catalães que roubaram os ingleses. Se bem que estes também já o tinham roubado aos monges copistas, que o inventaram para "diminuir" a palavra latina "ad"... Mas isso é outra história...

    ResponderEliminar
  2. Valeu a pena este momento "Professor José Hermano Saraiva".

    ResponderEliminar
  3. Engraçado, não concordo nada com o post. Acho que se existe em portugal um símbolo com um nome, que por sua vez é usado em endereços de email ou medidas de peso, devemos tratá-lo pelo seu nome em português.
    Não me lembro da última vez que ouvi alguém pedir x arrobas de batatas. A lingua é uma entidade viva, pelo que é saudável que evolua.
    Independentemente da utilização que teve em tempos, acho saudável que se torne a usar com um novo significado. Parece-me francamente um disparate afirmar que devíamos chamar "em" ao @. Iria gerar imensas confusões desnecessárias.
    É a minha opinião.

    ResponderEliminar
  4. A minha discordância não é com o uso do símbolo. Discordo da maneira como o lemos. Temos duas hipóteses: "Arroba" ou "Em". Ambas as hipóteses existem porque eram usadas no comércio, há vários séculos. Não estamos a inventar nada de novo. Mas temos que optar. E, na minha opinião, ao optarmos por "arroba" estamos errados. Devíamos optar por "em", que é muito mais lógico no contexto do correio electrónico.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

Conferência Europeia da Comunidade Alfresco

Já foi há quase quinze dias, mas julgo que ainda será relevante abordar a Conferência Europeia da Comunidade Alfresco, que decorreu em Barcelona no dia 22 de Abril. Com uma audiência de mais de 200 pessoas (a sala reservada estava cheia) vindas de vários pontos da Europa, este evento serviu para que muita gente desta comunidade se encontrasse pela primeira vez face a face. A Alfresco Inc. é uma empresa recente, que apostou em criar uma solução de gestão documental de topo de gama usando o modelo open-source . Considerando que a empresa, no seu terceiro ano de actividade, já atingiu o break-even , parece ter sido uma boa aposta. No arranque da conferência esteve John Powell, CEO da empresa, que falou um bocado sobre a excelente evolução da empresa e abordou a "guerra" entre o modelo de negócios proprietário e o modelo de código aberto. Exemplificou este conflito com o Microsoft SharePoint, que ele designou como "a morte da escolha", justificando o epíteto pelo facto

Backup automático de disco USB (pen drive)

Hoje em dia toda a gente tem uma pen drive para levar os seus ficheiros de um lado para o outro. E muitas vezes está lá trabalho importante. Mas impõe-se uma pergunta: o que acontece se se perde a pen drive ? Ou se esta se avaria? Quem é que faz backups regulares da pen drive ? Muito pouca gente! Pessoalmente tenho por hábito fazer um backup cerca de uma vez por semana. Quando o trabalho é muito, faço backup mais vezes. Mas já por duas vezes as avarias me fizeram perder as versões mais recentes. E isto chateia. Por isso aqui há uns dias decidi "coçar esta comichão" e resolver o problema de forma mais sistemática: arranjei maneira de fazer um backup automático cada vez que ligo a pen drive a um computador. (sim, eu sei que há software específico para isto, mas que querem, apeteceu-me fazer mais um) A receita é relativamente simples: um script (DOS batch file ) que faz o backup , um ficheiro de definição de autorun e já está. 1. O script de backup - Basta instalar, na roo

Horário de trabalho

A trabalhar há dois meses na Irlanda, ando para escrever alguns apontamentos daqui de Dublin, mas são tantos e tão diversos que há matéria aqui para escrever um blog inteiro (e talvez ainda o faca se a inspiração vier em meu auxílio). Há no entanto uma diferença que encontrei por aqui que é muito mais marcante do que eu poderia supor poder ser, e lembrei-me deste ponto que talvez se acomode bem neste blog e no tipo de posts que por aqui há. Falo do horário de trabalho . O horário que por aqui se pratica, e que suponho generalizado, é de entrar as 9h e sair as 17h, com meia-hora de almoço. Ou seja, 7 horas e meia. Ou seja, meia-hora de diferença para o horário "normal" de Portugal. E que diferença que essa diferença faz... Os irlandeses não são muito "fanáticos" com o trabalho e os horários, não se trata de regimes "autoritários" como parece ser em Inglaterra ou na Alemanha - a propósito, sabem que os alemães dizem que na Alemanha a taxa de criminalidade é