Avançar para o conteúdo principal

A irresistível ascensão do software open-source

Nas últimas semanas têm vindo a lume diversas notícias que confirmam os piores receios de uma boa parte da indústria de software: a parte que baseia a sua existência no pagamento de licenças de utilização. O software de código aberto continua a sua ascenção e a tendência é para acelerar.


Poupar é um hábito difícil de largar

Cinco anos de pesquisa sobre as tendências de adopção do open-source permitem a Jim Johnson, do Standish Group afirmar: "O Open Source está a pôr o mercado de software de pantanas. (...) Representa uma perda real de rendimentos de 60 mil milhões de dólares para as empresas de software".
Este dinheiro não desapareceu simplesmente. Foi dinheiro poupado, que pôde ser investido noutras áreas ou aumentou o lucro das empresas. E, embora este valor seja apenas 6% do valor estimado do mercado de software, a verdade é que, sabendo isto, as organizações procurarão aumentar ainda mais as poupanças daqui para a frente.


Analistas recomendam redução de preços de licenças


Ainda há quinze dias, o editorial do Semana Informática fazia referência a esta questão, noticiando que analistas de mercado como a IDC e o Gartner Group estão a aconselhar as empresas de software a reduzir as suas margens de licenciamento, por forma a garantir a sua sobrevivência a longo prazo. Aparentemente, os compradores estão a aperceber-se de que pagam demasiado caro pelo direito a usar software proprietário. E provavelmente começam a fartar-se de alimentar as obscenas fortunas de alguns bilionários da indústria.


Não é só pelo dinheiro

Ao contrário do que se possa pensar, muitas organizações adoptam open-source por outros motivos para além do custo das licenças. Até porque já há muito tempo se sabe que o custo das licenças é apenas uma parte relativamente pequena do custo total dos sistemas informáticos. Entre os argumentos principais para a adopção de software open-source destacam-se: a independência do fabricante, a facilidade de adaptação e a segurança.


Afinal, quem é que manda nos meus ficheiros?


Uma derrota exemplar do software proprietário acaba de ser concedida pela Microsoft que, após vários anos a impor os formatos proprietários do Office, finalmente anunciou que vai passar a suportar o ISO 26300, mais conhecido por OpenDocument. A decisão de adaptar o Office para ler e escrever ficheiros neste formato standard, que já existe desde 2005 e não está sujeito a qualquer tipo de patentes, foi provocada pela crescente pressão de utilizadores preocupados, que começavam a perguntar-se se iriam estar eternamente dependentes de um único fabricante para aceder aos seus dados.


Open-source é factor diferenciador competitivo

Mark Driver, do Gartner Group, afirma que "(...) as organizações usarão projectos open-source estáveis como factor de diferenciação competitiva em relação a empresas que se recusam a aceitar que o open-source já está pronto para o mundo empresarial". Há já vários anos que produtos como o Linux, o Apache, o MySQL, o OpenOffice, o JBoss e muitos outros são usados em ambiente empresarial com grandes vantagens para as organizações.


Pagar o valor justo

Empresas de TI como a IBM, a Sun, a HP e muitas outras já perceberam há vários anos que podem ser viáveis num mundo em que as licenças de software são gratuitas e o código é aberto. As organizações utilizadoras começam a acreditar que o open-source, para além de lhes permitir poupar dinheiro, lhes dá outras vantagens competitivas. A menor das quais não será certamente, a possibilidade de mudar de fornecedor sem pôr em risco o seu sistema de informação.

O movimento open-source vem trazer, afinal, uma maior transparência ao mercado das TI, onde o cliente compra o serviço e paga o valor justo, em vez de estar permanentemente a pagar pelo simples facto de "estar na mão" do seu fornecedor.

É por isso que o movimento open-source é imparável.

Comentários

  1. Sim. Nos EUA há menos gente a acreditar a sério no OSS. Acho especialmente interessantes duas frases da conclusão desse artigo: "A Europa e a maior parte do resto do mundo estão à frente dos EUA na adopção de Open Source. (...) É óptimo ver este nível de sofisticação na comunidade comercial de OSS da Europa e tenho esperanças que, eventualmente, o mercado dos EUA chegue ao mesmo ponto."

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

[Off-topic] "Novas" tendências de gestão

Afinal as novas tendências de gestão não são de agora. E as suas consequências também já são conhecidas há muito. Vejam esta carta do Senhor Vauban , Engenheiro Militar e Marechal de França, dirigida ao Senhor Losvois, Ministro da Guerra de Luís XIV, datada de 17 de Julho de 1683. "Monsenhor: ... Há alguns trabalhos nos últimos anos que não acabaram e não acabarão nunca, e tudo isso, Monsenhor, porque a confusão que causam as frequentes baixas de preços que surgem nas suas obras só servem para atrair como empreiteiros os miseráveis, malandros ou ignorantes e afugentar aqueles que são capazes de conduzir uma empresa. Digo mais, deste modo eles só atrasam e encarecem as obras consideravelmente porque essas baixas de preços e economias tão procuradas são imaginárias, dado que um empreiteiro que perde, faz o mesmo que um náufrago que se afoga, agarra-se a tudo o que pode; e agarrar-se a tudo, no ofício de empreiteiro, é não pagar aos fornecedores, pagar baixos salários, ter os piores

Conferência Europeia da Comunidade Alfresco

Já foi há quase quinze dias, mas julgo que ainda será relevante abordar a Conferência Europeia da Comunidade Alfresco, que decorreu em Barcelona no dia 22 de Abril. Com uma audiência de mais de 200 pessoas (a sala reservada estava cheia) vindas de vários pontos da Europa, este evento serviu para que muita gente desta comunidade se encontrasse pela primeira vez face a face. A Alfresco Inc. é uma empresa recente, que apostou em criar uma solução de gestão documental de topo de gama usando o modelo open-source . Considerando que a empresa, no seu terceiro ano de actividade, já atingiu o break-even , parece ter sido uma boa aposta. No arranque da conferência esteve John Powell, CEO da empresa, que falou um bocado sobre a excelente evolução da empresa e abordou a "guerra" entre o modelo de negócios proprietário e o modelo de código aberto. Exemplificou este conflito com o Microsoft SharePoint, que ele designou como "a morte da escolha", justificando o epíteto pelo facto

O que é uma POOL ?

Tenho andado a fazer implementações de mecanismos de pooling em Java 2 Enterprise Edition. Como me parece um conceito algo lato tentei a abordagem do dicionário. Alguns mostram que de facto a palavra é usada para muita coisa. A definição mais comum é "piscina". A que mais me agradou foi o que descobri na wikipedia , onde pooling é apresentada como uma técnica para guardar qualquer coisa que já não é necessária em determinado sitio (a que se chama pool ) com o objectivo de a usar quando necessário optimizando assim a utilização de recursos disponíveis. Partindo para a computação, existem vários tipos de pools: Thread Pool - Conjunto de threads livres que se vão adicionando a um fifo quando não necessárias e retirando quando se quiserem usar. Memory Pool - Conjunto de blocos de memória, todos da mesma dimensão, que se alocam inicialmente e usam à medida que necessário garantindo que o tempo de alocação de memória é constante e a fragmentação minima. Connect